A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, co-presidem na sexta-feira em Roma a uma cimeira sobre a cooperação com África, que estará representada pelo Presidente do MPLA, por inerência também Presidente (não eleito) do país, general João Lourenço.
A cimeira, intitulada “O Plano Mattei para África e o Portal de Entrada Global: Um esforço comum com o continente africano”, juntará a chefe de Governo de Itália, a presidente do executivo comunitário, o Presidente do MPLA (igualmente Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas) e também presidente em exercício da União Africana (de Fevereiro passado até Fevereiro do próximo ano), líderes da Zâmbia, República Democrática do Congo e Tanzânia, e ainda instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e Banco Africano de Desenvolvimento (BAD).
O objectivo da cimeira é fortalecer as parcerias com África, criando condições que reduzam a migração forçada e promovam o desenvolvimento sustentável, alinhando duas estratégias: o chamado Plano Mattei, proposto por Itália no ano passado, e a iniciativa «Global Gateway» (Portal de Entrada Global), da União Europeia, ambos focados em projectos conjuntos com países africanos nas áreas da energia, agricultura, educação e formação profissional.
O Plano Mattei – nome da estratégia em homenagem a Enrico Mattei, fundador da Eni (o gigante estatal italiano da energia), que nos anos 50 defendeu uma relação de cooperação com os países africanos que passava por ajudá-los a desenvolver os seus recursos naturais – foi formalizado numa cimeira em Roma em Janeiro de 2024, numa altura em que Itália presidia ao G7, e conta com um orçamento de 5,5 mil milhões de euros entre créditos, doações e garantias.
Entre as principais iniciativas deste plano conta-se o Corredor do Lobito, uma estrutura ferroviária de 830 quilómetros que ligará o porto da cidade de Angola que lhe dá o nome à República Democrática do Congo e à Zâmbia, criando um centro logístico regional para o transporte de minerais e produtos agrícolas.
O «Global Gateway», lançado em 2021, é um pacote de investimento de 150 mil milhões de euros que visa impulsionar os investimentos sustentáveis com base nas prioridades e necessidades dos países africanos.
A Comissão Europeia entende que o plano italiano pode ser articulado e complementar à sua iniciativa, sendo um dos objectivos da cimeira de Roma “consolidar a sinergia” entre as duas estratégias a “aprofundar a via operacional” para o avanço de iniciativas conjuntas, de acordo com fontes do Governo italiano.
Apenas dois dias depois de participar nesta cimeira em Roma – que terá lugar a partir das 11:00 locais -, o Presidente angolano, João Lourenço, será o anfitrião, em Luanda, da 17.ª edição da Cimeira Empresarial EUA-África, o mais importante fórum de negócios entre os Estados Unidos e o continente africano.
Num fórum que decorrerá entre domingo e quarta-feira, e que terá também o Corredor do Lobito entre os temas em destaque, são esperados mais de 1.500 participantes, incluindo chefes de Estado, primeiros-ministros, ministros africanos, altos responsáveis da administração norte-americana e líderes empresariais dos dois continentes.
Fora do Plano Mattei fica o reconhecimento de que 68% da população angolana é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é das mais altas do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças, que apenas 38% da população angolana tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico.
Fora do Plano Mattei fica o reconhecimento que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade, que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.
Fora do Plano Mattei fica o reconhecimento que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos, que, em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos.
Fora do Plano Mattei fica o reconhecimento que, em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
Fora do Plano Mattei fica o reconhecimento que Angola é um dos países mais corruptos do mundo e que tem 20 milhões de pobres.